quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A curiosa chuva em Benjamin Button

É semiótica. A chuva está presente nos filmes em momentos de tensão, de desvendar da trama, de acontecimentos marcantes. Chove no filme "O misterioso caso de Benjamin Button". Não uma chuva qualquer. Mas a chuva que cai com vento, com assobios, com tensão. A chuva do prenúncio do furacão. A chuva do Katrina.

Estamos em 2003. Uma senhora, Dayse, está no leito de morte em um dos hospitais de New Orleans. A filha começa a ler um diário com memórias de uma vida incomum. Não a da mãe, mas a de um sujeito curioso: Benjamin Button.

A narrativa de Benjamin é permeada pelas lembranças dessa senhora e pela dramaticidade da chuva que cai sem parar. Há enfermeiras correndo, pacientes sendo transferidos, mas no quarto das reminiscências, a chuva é companheira. O noticiário informando sobre o perigo dos diques se romperem. E o drama de Benjamin, o amor de Dayse, o mistério e o curioso.

Nenhuma chuva cinematográfica daria conta de passar a dramaticidade do conto de F. Scott Fitzgerald, em que o longa se baseia. Nenhuma tempestade, nenhum trovão. O diretor David Fincher escolheu o fenômeno meteorológico que mais causou comoção na recente história dos Estados Unidos. O espectador que se prepare.

A trama parece ser o sonho de alguns: nascer velho e morrer jovem. Mas Benjamin Button sofre. O corpo é senil, mas a mente é de criança. Ele não consegue correr e brincar porque tem artrite. Não consegue movimentar os membros jovens porque o espírito envelheceu. Tem esclerose aos oito anos. E morre bebê. A chuva do Katrina revela à leitora do diário a sua ligação com a história. A tormenta traz a versão de Benjamin para a ligação que ele e a mãe tiveram em vida. Memórias que Dayse jamais imaginaria.

E há o relógio.

A inundação do Katrina chega ao local em que está guardado o relógio. O mecanismo que enfim irá se estragar. O relógio que foi posto na estação pelo pai de um combatente de guerra que morreu em batalha. O relógio cuja engrenagem movimenta o tempo para trás. O relógio do ano em que Benjamin Button nasceu. A semiótica, o tempo e o espaço, a narrativa inicial que faz referência na última cena do filme. A história que se perdeu na inundação, na água da chuva, na tormenta dos sentimentos. Benjamin Button e os botões da história, os botões do tempo, os botões que o fazem enriquecer, mas não trazem a permanência do amor.

E tem-se a ideia de que o melhor do amor é envelhecer juntos. O melhor da vida é a velhice, o melhor da velhice, é a senilidade. O melhor do filme, as reflexões que provoca.


Ficha Técnica
Título Original: The Curious Case of Benjamin Button
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 166 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.benjaminbutton.com.br
Estúdio: Warner Bros / Paramount Pictures / The Kennedy/Marshall Company
Distribuição: Warner Bros
Direção: David Fincher
Roteiro: Eric Roth e Robin Swicord, baseado em estória de F. Scott Fitzgerald
Produção: Ceán Chaffin, Kathleen Kennedy e Frank Marshall
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Claudio Miranda
Desenho de Produção: Donald Graham Burt
Direção de Arte: Kelly Curley, Randy Moore e Tom Reta
Figurino: Jacqueline West
Edição: Kirk Baxter e Angus Wall
Efeitos Especiais: Lola Visual Effects / Evil Eye Pictures / Matte World Digital / Savage Visual Effects / Hydraulx / Drac Studios / Asylum VFX / Digital Domain / Gentle Giant Studios / Ollin Studio / Special Effects Atlantic


Mais?
www.benjaminbutton.com



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