Luiz Carlos Ramos é o jornalista que acompanhará a nossa turma no módulo "A Pauta". Como primeiro exercício, propôs que descrevêssemos São Paulo comparando-a com a cidade de origem, ou, para os paulistas, comparando o bairro em que moram com o bairro do Limão, onde fica o jornal O Estado de S. Paulo. Fiz um texto bem lúdico, sem me ater ao leitor-padrão do Estadão, cujas características são mais conservadoras e sisudas. O problema é que decisóes como essa podem ser ridicularizadas frente à toda a turma. Também há o erro comum de que a parcialidade de alguém que vivia em São Paulo à três dias poderia atrapalhar e estabelecer comparaçãoes supérfluas, medianas, preconceituosas, desnecessárias, enfim...
O feedback também vem nessa semana. Vamos ver o que será dito disso que mal tracei aí:
O relógio marcava 20h17. Caminhava a passos apressados, um pouco por costume, outro pouco porque disseram que não era bom andar por ali, naquele horário. Planalto Paulista, São Paulo. Terça-feira, 02 de setembro de 2008.
O bairro guardava semelhanças com a cidade de onde vinha, Curitiba. Da capital paranaense, trazia a lembrança de árvores por todos os lados e o declive acentuado de alguns caminhos. O nome da rua, Itaipu, também parecia combinado.
Para ela, Curitiba é uma cidade organizada, previsível, que cresce com planejamento. São Paulo é uma cidade instintiva, rebelde, que cresce desenfreadamente. Ela era um pouco São Paulo, tentando domar-se e ser Curitiba.
As calçadas irregulares, as sujeiras pela rua e o sistema de transporte estrangulado às vezes fazia-a sentir saudades do trânsito paranaense, das ruas varridas e das calçadas em preto-e-branco, que compunham com seus sapatos vermelhos cenas de um filme europeu. O ritmo agora era outro. Entregava-se à massa do metrô como um peixe em um cardume, que se movimenta em conjunto para aumentar as chances de sobrevivência.
Metrô que, aliás, é o mesmo assunto na eleição de ambas as cidades. Uma porque precisa implantar; outra porque precisa ampliar. O transporte urbano de Curitiba foi citado pelo candidato à prefeitura paulista Geraldo Alckmin na sabatina realizada no Estadão daquele mesmo dia, como exemplo de mobilidade. A teoria plasticamente perfeita de Curitiba convence aos visitantes, mas não aos moradores da capital paranaense. O aperto de um biarticulado é o mesmo do metrô da Sé, com a agravante de ser assim por todo o trajeto Tucuruvi-Jabaquara, e não apenas Sé-Liberdade – comparando os trajetos de ambas as cidades.
O planejamento urbano de Curitiba segue o mesmo padrão há anos, de acordo com levantamento feito pelo jornal Gazeta do Povo na edição de 10 de agosto de 2008. Diz o texto de Bruna Maestri Walter que desde 1954 foram 15 prefeitos e somente três eram da oposição. O mesmo padrão não pode ser percebido por São Paulo. Talvez por isso a cidade cresça sem limites, como uma criança educada por pais, tios e primos. Curitiba não se mostrou pronta para a democracia transposta em diversos partidos na prefeitura. Para ela, enquanto suas percepções sobre a cidade paulista vão se delineando, as capitais decidem pelos governantes dos próximos 4 anos. Pensa que seria bom haver ousadia com planejamento. Assim como aconteceu consigo ao vir morar em São Paulo.