quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Amanhã teremos Sol

Ele, em viagem, aproveitava o fim de ano com amigos em uma ilha paradisíaca do litoral do Paraná (sim, o Paraná tem ilha paradisíaca... só que ninguém conhece). Ela ficou na cidade, trabalhando. Não que fosse um namoooooro daqueles já consagrados, reconhecidos e afinados, com regras internas de pode-não-pode. Eram dois amigos, dois ex-namorados que se encontraram anos depois. E a paixão veio, deixando-os atordoados... mas não a tempo de conversarem sobre o que havia entre eles. Ano Novo, viagens, nenhum compromisso. Preferiram deste modo. Os sentimentos se encarregaram de enlaçá-los. E assim foi.


Quando ela voltou ao trabalho depois do recesso, a saudade aumentou. Queria estar com ele lá na ilha, tomando cataia, comendo pastel de camarão, andando quilômetros pela praia deserta. Mas estava em Curitiba. Céu cinza, vento frio, computador, jornal, leituras, pesquisas. Momento de rebeldia. Tirou uns minutos para pensar.

Escreveu um e-mail para ele, mesmo sabendo que não o leria. Esperou a resposta, mesmo sabendo que não viria. E sentia saudades. Depois, insegurança. Depois, um pouco de raiva. Esqueceu que ele estava na ilha sem internet. Deu vazão à sua veia histérica e soltou a imaginação: “Ele deve estar lá, tomando todas, comendo pastel, matando o tempo da chuva no bar do Magal, sim, tenho certeza... e lá também estão todos os que resolveram acampar na ilha... hum, deve ter umazinha olhando para ele, claro... com aquela carinha de querido... hum... ele tomando... ela também... o frio da chuva, os corpos molhados, a preguiça e a vontade de se largar com alguém dentro da barraca, só para esquentar... tomara que ele encha o colchonete de areia quando se jogar lá dentro com alguém... não, melhor: tomara que ele beba tanto que nem repare em alguém... sim... tomara... e este e-mail que ele não responde? hein? hein? Eu aqui, sentindo saudades, trabalhando (graças a Deus, porque a situação está feia), mas ele também deveria estar aqui... poxa... sinto saudade... ora... ora...”


Durou umas frações de segundos. Os pensamentos foram e voltaram, até que riu da possibilidade de ser uma louca (ela o era, na verdade... mas disfarçava). Pensou em escrever outro e-mail. Acontecimentos do dia, nada de mais... só para compartilhar. Não escreveu. Imaginou que era bem fácil esta história de histeria ganhar força e se transformar em realidade. Voltou ao trabalho, ao jornal, às pesquisas, aos textos.


No dia seguinte, enquanto voltava para casa pensando e pensando “cadê, cadê, cadê ele?” enquanto a chuva caía forte, escorrendo pelos vidros do ônibus de apito agudo de próxima parada, percebeu que queria ver piscar no celular o nome dele. Sintomático. Torceu para que estivesse chovendo na ilha, para que ele voltasse logo. Depois tentou desfazer este pensamento, muita maldade e egoísmo em uma pessoa só. Mas era saudades... só saudades...


Desceu no ponto próximo à sua casa, correu da chuva que caía, protegendo papéis, livros, câmera fotográfica. Lembrou do dia em que eles foram juntos visitar a exposição fotográfica que ela havia montado dois meses antes. Calor, críticas, carinho, cerveja, calor, cerveja, cerveja... e o beijo sem querer, e as borboletas a voarem, e os sentimentos.


Quando o telefone tocou, pensou: “Bem que poderia ser o Reinaldo, tenho saudade de ver o nome dele piscando aqui, mas deve ser a minha mãe, só ela me liga...” Olhou. Era ele. “Acabei de chegar. Liguei só para dar oi”. Eba! Conversas, risos, como foi lá, como foi aqui. Saudades.

Amanhã teremos sol. E passeio de mãos dadas.

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