segunda-feira, 17 de novembro de 2008

It´s a long road*

Durante o curso no Estadão mantive em minha mente algumas imagens: a menina que pretendia ir ao Golfo contar as histórias de Guerra; a adolescente que queria mudar a realidade do Brasil escrevendo “verdades que os outros não diziam” (sem cogitar por que será que ninguém, antes dela, tivera esta brilhante idéia?!); a acadêmica cansada de aulas práticas e discussões vazias, ainda que valessem pelos excelentes professores que driblavam a rotina; a recém-formada apreensiva; a jovem contratada e desiludida; a Élida que resolve trocar tudo que é certo (e chato) pelo muito duvidoso. A foca 13.

O receio de ser posta à prova, de sofrer a pressão de redigir textos diversos a prazos curtos, de conseguir fontes em uma cidade enorme como São Paulo, de ser corrigida em público e se sentir constantemente avaliada – tudo isto não foi nada se comparado às mudanças internas. Sair do meu círculo de conforto e me por à prova de novos desafios. Difícil, no jornalismo, é manter a sanidade.

Não é apenas a experiência empresarial do grupo Estado. É o convívio forçado com 30 pessoas que você não escolheu para serem seus amigos e que, com facilidade, acabam se tornando alguns dos melhores. É sentir saudades daqueles que você escolheu para o serem e perder o contato aos poucos, vendo a distância arrefecer a amizade até que a vida os separe. É não ter casa-comida-e-roupa-lavada, é ver as economias se esvaírem em passagens de metrô e sanduíches de presunto e queijo. É sonhar com um pão-na-chapa. É tornar-se uma foca alimentada a macarrões instantâneos. É dormir tarde, acordar cedo e – insanamente – agradecer por toda esta experiência. “Meu Deus, como sou feliz!”, pegava-me repetindo nas situações mais bizarras.

Insanos ou não, nos tornamos melhores.

Mais sensíveis às diferenças dos outros, mais tolerantes a mudanças. Nos tornamos melhores não apenas para o mercado ou para o temido ranking do curso. Nos tornamos melhores para nós mesmos, superando – cada qual – a sua própria dificuldade. Reconhecendo os pontos fracos e trabalhando duro para se tornarem medianos. Cuidando dos pontos fortes para que não se perdessem em meio a tantas novidades.

“E o que mais, gente?”, perguntaria o Chico Ornellas. Em meio a reminiscências, mais – muito mais – flashes do Johnnys, do metrô, do centro, do Anhangabaú, dos e-mails, das aulas, do Paco, da Sé, da busca desenfreada por um refugiado no centro de São Paulo, de Santa Cruz, de Lima, da chuva, das festas – na piscina, na mesa de bilhar, no quarto 301, na Alameda dos Araés, no ônibus, no avião, na noite limenha. Ah, lembranças. O pisco em frente ao Pacífico. Augustas desconsoladas. Out of Record
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* Trecho da letra de "It´s a Long Way", música de Caetano Veloso. Os versos iniciais são propícios para o clima deste post: "Woke up this morning / Singing an old, old Beatles song / We’re not that strong, my lord / You know we ain’t that strong / I hear my voice among others / In the break of day / Hey, brothers / Say, brothers / It’s a long long long long way (...) It's a long road

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