quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Da moral e dos bons costumes

Para Confúcio, a moralidade deveria ser seguida com fim nela mesma, não em benefício próprio. Sócrates tinha como base da sua filosofia a busca pelo conhecimento de si e do mundo, o que resultariam em condutas morais. John Stuart Mill defendia que deveríamos agir de maneira que nossa atitude fosse a melhor para a maior quantidade de pessoas.

A atitude moral existe em benefício do coletivo. Ela deixa ter razão de existir se a intenção for simplesmente angariar benefícios próprios, individuais.

No Brasil, conduta moral é festejada com alarde. Noticia-se e premia-se aqueles que agem pelo suposto bem de todos. Como se oferecessemos palmas ao ator que nos entretém com histórias. Ou ao palhaço que nos diverte com brincadeiras.

Em uma dessas esquinas improváveis, repletas de santos cegos, o cineasta Fernando Meirelles e o juiz Fausto de Sanctis se cruzaram. Aquele recebeu um prêmio de uma revista por ser um paulistano de destaque. Este foi agraciado com a benevolência do premiado, que repassou o agrado ao juiz. Quanta firula. O prêmio, por si só, não me convence de que é alguma coisa a mais do que marketing publicitário promovido pela revista que lhe dá nome. Não serve de parâmetro. Ser repassado ao magistrado, como sinônimo de um reconhecimento por sua atitude moral ao julgar uma pessoa baseado em provas fartas de estar envolvida no crime, não me parece em nada uma atitude plausível. Onde está o ponto?

Temos um juiz que merece ser reverenciado porque cumpriu a sua função?

Ou temos um cineasta que pouco faz do prêmio e o utiliza para ironizar esta situação tragi-cômica?

No mundo das idéias, prefiro ficar com a segunda hipótese.
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Fonte: Folha de S.Paulo, 18/12/08
Mônica Bergamo

De Sanctis é "premiado" por Fernando Meirelles
O juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo e responsável, entre outras, pela prisão do banqueiro Daniel Dantas, ostenta em sua mesa, orgulhoso, um troféu que a revista "Veja São Paulo" entregou aos "Paulistanos do Ano" há uma semana.

Não, o juiz não estava entre os premiados (um grupo que incluía a atriz Sandra Corveloni, a geneticista Mayana Zatz e o jornalista Laurentino Gomes). O troféu acabou em sua mesa porque o cineasta Fernando Meirelles, homenageado na categoria cinema, decidiu enviá-lo ao juiz junto com uma cartinha.

"Ao subir no palco para receber o troféu, disse que me sentia honrado pelo reconhecimento mas que havia um paulistano que merecia o prêmio muito mais do que eu, que nos orgulhava pela sua postura e capacidade de resistir às pressões e que como ele não estava na lista dos contemplados da noite eu repararia o lapso e daria a ele meu prêmio. Este paulistano evidentemente é você [Fausto] e o prêmio, conforme o prometido diante de muitas testemunhas, aí está", escreveu Meirelles ao juiz.

Os dois não se conhecem, mas, na carta, o cineasta se derrama ainda em elogios e dá os "parabéns" ao juiz "pela sua coragem, correção e fibra, que são inspiradoras. Seu exemplo tem uma dimensão transformadora que raras figuras neste país igualam".

Sobre a placa no troféu que leva seu nome, o cineasta colocou um papel e escreveu, a caneta, o nome de seu homenageado particular.

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