terça-feira, 31 de março de 2009

Ela

Pelas manhãs, às 8h55, o ônibus Estribo Ahú sai do ponto final e percorre o trajeto bairro-centro, pegando pelo caminho pessoas sonolentas como eu que saem de suas casas para trabalhar. Sempre penso como é que eu conseguia acordar mais cedo do que isso quando era mais nova, saía para a balada, ia para a aula, de tarde fazia várias atividades... onde foi parar as pilhas que perdi? Mas não era sobre isso que eu ia escrever (quem sabe o próximo post mensal). Vamos lá. Ia escrever sobre o trajeto matinal do ônibus. Pois bem.
Às 9h10, mais ou menos, embarca no microônibus uma senhora cheia de vivacidade. Conversa com o motorista, puxa papo com os passageiros, não se importa muito se você responde ou não. Ela quer é falar. Dia desses, fui eu a escolhida para ouví-la.
Como em outros solilóquios que já havia presenciado anteriormente, ela, comigo, começou dizendo as mesmas coisas: que as pessoas andam tristes, que ninguém conversa com ninguém, que antes-sim-as-pessoas-sorriam, que hoje nem as crianças são as mesmas e blá. Fiquei entristecida. Fechei timidamente meu livro, no qual enfio minha cabeça todos os dias, sem olhar para os outros passageiros. Tentei sorrir e respondê-la, mas foi em vão. O solilóquio prosseguiu.
Enquanto a senhorinha destrinchava sobre mim seus pensamentos, eu balançava a cabeça e pensava em meus monstrinhos. Ela contava do irmão, com o qual não se dava bem - eu pensava que vida triste não poder conversar com o irmão. Lembrei do meu que há tempos não converso direito...
Depois, falou dos 11 gatos que vivem com ela e eu pensei em meus cachorros e no meu futuro. Talvez em poucos anos seja eu a sentar-me ao lado de uma jovem que sorri com seu livro sobre o colo, sem dizer uma palavra porque absorvida em pensamentos, enquanto eu imaginarei que ela nada diz porque não consegue compreender o que eu tento ensinar. E assim seguiremos a nossa viagem até o centro da cidade, onde ela descerá para trabalhar e, eu, bem... seguirei o meu caminho conversando com pessoas, alertando-as a não ficarem tristes, porque a vida é uma só e sim, eu havia aprendido isso com a minha. Quiçá ouvisse os conselhos daquela mulher idosa que, um dia, tentou me alertar.

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